Apresentação

Este blog tem como objetivo divulgar e compartilhar meu trabalho na Psicologia, publicar produções e reflexões sobre minha prática, sobre a pessoa e seus relacionamentos. O nome Ser e Crescer engloba muito de como penso e vejo o ser humano e me dirijo às pessoas com quem trabalho. Remete à beleza do ser como e quem se é, ao respeito, à acolhida e à aceitação incondicional do ser, e ao impulso intrínsico para o crescer. Estou profundamente comprometida com cada pessoa que está diante de mim e com seu crescimento, sabendo que este crescer é realmente possível.







terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Como o movimento do mar


De férias, na praia, contemplo o mar e sua beleza. Reflito sobre ele e penso em como se “apresenta” para mim. Fantasiando, se ele se apresentasse, poderia dizer: sou belo, de cor clara, esverdeada, mas posso ter a cor mais escura e menos transparente (e, talvez, ficar menos atraente). Estou sempre em movimento: posso estar ou mais calmo, ou mais agitado. Há momentos em que estou tranquilo, com poucas ondas, e outros em que estou mais agressivo, com ondas fortes. Posso te levar comigo, e até te derrubar com minha força, mas também com minha suavidade te acariciar. Posso te dar a experiência de boiar, e até de parecer flutuar. Às vezes estou mais recuado, e às vezes avanço mais na praia. Posso sempre te surpreender – nunca vais me encontrar da mesma maneira...
O movimento do mar é muito similar ao nosso movimento. Quanto mais vivermos os momentos desse movimento, aproveitarmo-los, de forma cada vez mais consciente, mais emocionalmente saudáveis seremos. O mar nos “fala” de opostos, de lados diferentes. Não somos sempre calmos, nem tampouco sempre agitados. Por vezes estamos mais de um jeito; noutras, de outro. É importante ampliar a consciência de que estes lados e momentos estão comigo, são meus. A partir daí, acolher meus lados, meus momentos e, então, poder ter mais clareza do que fazer com isso, de como agir, a quem procurar. Por exemplo, há situações em que é necessário ser mais enérgico (o que não quer dizer fazer mal ao outro), como o mar com suas ondas fortes, a fim de se fazer ouvir e entender. Porém, isso só é possível quando se permite entrar em contato com o seu lado mais enérgico e menos brando.
Há outras polaridades que carregamos conosco, além de enérgico/brando, como: forte/fraco, cheio/vazio, calmo/agitado, belo/feio, exigente/flexível, ágil/lento, inovador/conservador e muitas outras. Na educação dos filhos, por exemplo, é preciso ser exigente para que eles tenham limites, mas é necessário soltar as rédeas em alguns momentos e saber flexibilizar para que a educação não fique pesada demais. É, então, importante buscar encontrar a medida dos diferentes lados que mais vai auxiliar para que as situações sejam bem resolvidas (no exemplo: o quanto preciso/posso ser exigente nessa situação?).
Aproveito para apontar que pode acontecer de não se conseguir não ser tão exigente. Sabe-se que poderia ser menos, que a situação não pedia tanto, mas não se consegue. O mesmo pode ocorrer com outras polaridades. Então, é provável que se precise de ajuda profissional para conseguir flexibilizar quando necessário e lidar de forma mais adequada e harmônica nas diferentes situações.
Outro aspecto interessante do mar é a surpresa. Podemos estar tão acostumados conosco mesmos que nem nos surpreendemos mais com a gente. Ou já espero do outro o que imagino que vai mostrar e nem dou abertura para me surpreender com ele. Só que estou vendo apenas um lado. Há vários outros. Às vezes, precisamos de uns cutucões para ver e acolher outros lados em nós (que podem até assustar) e também outros nos outros. E vou continuar sendo eu, mesmo assimilando diferentes lados – semelhante ao mar que não deixa de ser mar por se movimentar tanto – ter ora ondas grandes, ora pequenas. Trata-se de um eu cada vez mais consciente de suas partes, de mais “posse” de si, podendo ser mais integrado e, então, mais inteiro.
* Texto parcialmente publicado no Jornal Cidade Leste, edição de fevereiro de 2012.

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