Repetição é fazer a mesma coisa, várias vezes, de forma a ser um costume, um hábito. Acumulamos repetições ao longo da vida, o que inclui não só atos, mas igualmente o como realizamos estes atos. Repetimos a forma como comemos, como dormimos, como estudamos e, muitas vezes, também repetimos o para que fazemos essas coisas.
Em geral, não podemos mudar o fato em si – não conseguimos deixar de comer por muito tempo –, mas podemos modificar o como fazemos, e ainda o para que fazemos. Assim, por exemplo, o comer de forma rápida, apressada, e para somente atender uma necessidade física, pode ser transformado num comer de forma mais devagar, saboreando os alimentos, com um novo como. Além disso, pode ter um novo para, se tornando um cuidado consigo e também ocasião de convivência com os outros. A mudança do sentido, do para que e do como, constitui-se na elaboração simbólica do ato. Então, haverá uma repetição com elaboração, ou seja, com sentido.
Iniciamos um novo ano. Como vimos, temos a tendência a repetir dia a dia, ano após ano as nossas atitudes. Muitas vezes não podemos modificar fatos, mas podemos tomar a responsabilidade sobre como os vivemos, como os sentimos, e mudar o modo como vivemos os fatos, assim como o sentido dos mesmos. Porém, isso só é possível mediante uma busca sincera por autoconhecimento. É preciso prestar atenção ao que sentimos, ao como fazemos as coisas, para podermos nos dar conta e enxergar que pode ser diferente. Ter agido em muitas ocasiões do mesmo jeito não quer dizer que não possa ser diferente.
Talvez, por exemplo, você esteja tão acostumado a falar de forma grosseira com as pessoas que nem se dê mais conta disso, e nem perceba que afasta os outros dessa maneira. Pode pensar que o problema é com os outros, e não com você. Ou, ao contrário, os outros são agressivos demais, e você acha que não fez nada para que agissem assim com você. Porém, se os outros invadem seu espaço, mesmo assim há o seu lado que se deixa invadir. Procure prestar atenção no como você fala, faz as coisas, e no para que, com que sentido. Para que você precisa falar de forma tão grosseira? O que você ganha com isso? O que aconteceria com você nos relacionamentos se agisse diferente?
Enfim, há tantas possibilidades! É importante ter presente que sempre há oportunidade de novos sentidos, de novos “comos”, de novas elaborações. E, para isso, também podemos contar com a ajuda dos outros, em amizades, relacionamentos afetivos, na família, em grupos, e, inclusive, através da psicoterapia. Que o ano de 2012 seja cheio de novas elaborações!
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