Todos conhecemos o ditado popular “De louco todo
mundo tem um pouco!”. De fato, trazemos conosco feridas emocionais não
resolvidas, dificuldades pessoais mal trabalhadas, resistências, aspectos de
nós mesmos e dos nossos relacionamentos que não queremos ou não conseguimos
ver, pensamentos distorcidos sobre si, sobre os outros e sobre o mundo,
características de personalidade que não gostamos, que nos atrapalham etc.
Concebidas neste sentido, nossas “loucuras” são, ao contrário do que pode às
vezes se pensar, muito mais um ponto comum entre nós do que de diferença. Todos
vivemos nossas “loucuras” e isso faz com que ninguém possa se colocar num lugar
de totalmente “normal” ou de superior perante os outros, como se não tivesse
nada para resolver. Se eu não passo por um problema que o outro vive, enfrento
diferentes, que este outro pode não experimentar.
Precisamos aceitar e acolher nossas loucuras como
uma parte de nós que tem sua importância e seu valor. Enquanto parte de si, é
importante, por mais sofrido ou difícil que seja. O paradoxo está em que
somente quando aceitamos e amamos nossas loucuras, quando aceitamos quem somos
agora é que podemos começar a mudar. Não se trata de conformismo. É uma atitude
diante de si, consigo, sem julgamento. É não esperar mudar para se acolher, mas
se acolher para, então, poder mudar. Se não há acolhida, os problemas são
maiores: além da própria dificuldade vivida, há a briga consigo por não aceitar
a existência da dificuldade. Já o acolher a si abre espaço para menos
ansiedade, para novos sentimentos e significados, para enxergar novas
possibilidades, para o novo.
Assim, por exemplo, a pessoa que está obesa e quer
emagrecer, dificilmente conseguirá mudar brigando consigo mesma, mas quando
acolher sua obesidade sinceramente, tem muito mais possibilidade de mudar
aceitando seu momento atual. Similarmente, a pessoa tímida terá maior
aproximação da extroversão quando puder aceitar sua timidez e suas dificuldades
de expressão.
Atitudes para a mudança são necessárias, sim.
Terapia, exercícios de autoconhecimento, dieta (no caso do emagrecer),
atividades físicas e/ou outras atitudes são importantes; porém, não conseguimos
mudanças efetivas sem a aceitação e a acolhida de si. Além do mais, esta aceitação reverbera numa
acolhida maior para com as dificuldades e “loucuras” do outro, possibilitando
relacionamentos mais abertos, serenos e sinceros.
* Texto publicado no Jornal Cidade Leste, edição de outubro de 2012.
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