Neste mês especial, quero começar este texto com
uma citação de Richard Hycner, psicólogo gestalt-terapeuta americano, que
afirma: “A vida destituída do espiritual é uma vida amortecida. Nós nos
tornamos tão enamorados de nossas atividades racionais e científicas que nos
esquecemos do ‘milagre’ mais primordial de todos: nós existimos. O fato de que
nós somos, ofusca, de longe, qualquer coisa que, como humanos, possamos fazer”[1].
Penso que no tempo de Natal que estamos
vivendo, cabe ressaltar nosso lado espiritual, tão facilmente esquecido em
nossa sociedade. Por certo, não é uma realidade visível, com a qual se pode
contatar fazendo muitas coisas, comprando muito, no tumulto de uma rotina em
que parece que se está sempre correndo e soterrado de coisas. Ao contrário,
como bem está colocado no clássico O Pequeno Príncipe, de Antoine de
Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”[2].
O espiritual está para além do ter, do fazer, e diz respeito a nossa realidade
mais profunda. Por ele, podemos orientar nossa vida por valores, e dar
significados e sentido a nossa existência, e às realidades cotidianas. Com o
espiritual, formamos um todo corpóreo, afetivo, social, cognitivo, todo que é
integrado e interligado.
Como pessoas também espirituais, vivemos
e buscamos viver a fé, o amor, a generosidade, a gratidão, a contemplação, o
compartilhar a si mesmo com os outros, o respeito, enfim, valores que dão cor e
brilho para nossas vidas. Parece evidente como nossa sociedade carece deste
brilho, que passa pelas escolas, família, trânsito, jogos de futebol etc. Só
que esse brilho exige esforço, empenho, busca sincera por ser, por ser mais
humano, por ser uma pessoal melhor. E esse esforço acaba ficando esquecido numa
sociedade em que se procura cada vez mais facilidade.
A cena principal do Natal, o presépio
com o menino Jesus deitado em palhas, com Maria, José e alguns animais, nos
chama atenção para as coisas mais importantes. Ali acontecia um mistério de fé
e havia e se realizava o amor. O amor que é presença, é ser para o outro, é
estar com o outro. Não há muitas coisas. É a contemplação do simples e, ao
mesmo tempo, do grande, do extraordinário. É um menino que nasce, esperado e
adorado como Deus pelos cristãos.
Independente da crença de cada um, que
este final de ano seja permeado pela vivência da valorização do espiritual,
pela renovação da alegria de existir, de ser, de ser com os outros. Que esta
realidade de existir, pelo seu sentido maior, supere mágoas, desentendimentos,
desistências do si e do outro, revigore desejos e possibilidades de encontros
autênticos e verdadeiros, em que o amor e o respeito realmente aconteçam.
[1]
Citado por Pinto, Ênio Brito. Os padres em psicoterapia: esclarecendo
singularidades. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2012, p. 19.
[2]
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe: com aquarelas do autor;
tradução de Dom Marcos Barbosa. 48 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2009, p. 70.
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