Poucos
dias atrás eu li no livro “A vida, o tempo, a psicoterapia”, de Jean Clark
Juliano (da Editora Summus, de São Paulo, ano 2010, p. 32), uma frase de que
gostei bastante: “se existem duas palavras temidas e banidas hoje em nossa
sociedade são estas: ‘compromisso’ e ‘intimidade’”. Uma realidade, que é vivida
em contextos e situações diversas, parece estar cada vez mais presente.
Nas casas, a televisão mostra ser
mais um membro da família. No início deste mês de maio, comentei isso num grupo
e, uma das pessoas que ouviu disse: “Não! É mais do que membro da família!”. As
pessoas já vivem correndo e, quando estão juntas, ainda estão por intermédio da
televisão, que algumas (ou muitas) vezes parece dar o assunto do dia. Também o
computador, a internet e os celulares vêm cada vez mais ocupando este lugar de
gente. E o que acontece com o compartilhar de experiências vividas, com a troca
de afeto, que dão solidez para as famílias, para os relacionamentos, enfim,
para a pessoa, e que objeto nenhum pode dar?
As ideias de imediatismo e do
descartável parecem tomar o lugar do compromisso e da intimidade. Tudo tem que
ser para agora, ou para ontem, sendo a espera muito difícil de ser tolerada. As
tecnologias e máquinas evoluem cada vez mais, tornando-se o estragado descartável.
Nessa rotina, os relacionamentos e as pessoas têm ficado descartáveis,
alimentando um vazio existencial, que permanece sendo tapado e escondido pelo
barulho e tumulto cotidianos...
Nesse contexto, pais e educadores
têm um papel fundamental. É preciso, sim, manter limites e fazer calar a
televisão, ter tempo delimitado para uso de internet, celular, games... Não é a
solução, mas são medidas importantes. Faz-se necessário o cultivo de diálogos,
de troca de experiências, em que todos possam ser ouvidos, todos tenham a
oportunidade de falar, de acolher e ser acolhidos. Momentos em que haja espaço
para que os conflitos apareçam, para que possam ser encarados, lidados e
resolvidos, e não sejam escondidos e/ou negados.
Uma rotina de diálogo, de
compartilhar experiências no contínuo exercício de esperar e respeitar o
momento do outro reflete compromisso, não somente com o outro, mas consigo
mesmo. A intimidade e contato com o outro alimentam a intimidade e contato
consigo e vice-versa. Quem sabe ainda possamos mudar o rumo de uma sociedade
que parece ficar cada vez mais doente, com as pessoas mais frias, distantes,
intolerantes, descomprometidas com a vida do outro e com a própria!
* Texto publicado no Jornal Cidade Leste, edição de maio de 2013.
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