A imagem evidencia o sentimento ou
sensação de vazio interior, bastante comum em nossos dias. O sentimento de
vazio é acompanhado por angústia, ansiedade, podendo haver outros sentimentos,
como tristeza profunda, raiva, desconforto.
Do ponto de vista psicológico,
este vazio não é principalmente um vazio de alguma situação do contexto atual,
mas é como um sinal interior de necessidades que não foram atendidas no
passado, e que ainda precisam ser resolvidas.
Há muitos adultos que,
por mais que sejam amados no momento, não se sentem preenchidos, ou merecedores
de amor, e continuam se sentindo vazios. Ao mesmo tempo em que é experimentado
o desejo profundo de estar com as pessoas, o estar com os outros não preenche,
e o vazio continua. Um vazio que aponta uma falta, de muitos momentos em que
precisavam receber amor, mas não o tiveram. Em geral, situações de opressão
física e/ou psicológica, abuso sexual, violências diversas, negligências, estão
relacionadas ao sentimento de vazio.
Enquanto o sentimento de vazio
não é encarado, trabalhado, permanece incomodando, podendo se manifestar de
muitas formas: ciúmes excessivos, uso de drogas, insatisfação constante, trocas
repetidas de relacionamentos afetivos, baixa auto-estima, mentiras ... Há ainda
a dificuldade ou intolerância ao silêncio, o fazer muitas coisas, busca
incessante de consumo de coisas, mesmo sem necessidade...
Alice Müller, no seu livro
“O drama da criança bem dotada”[1],
desenvolve muito bem como os sentimentos infantis que não foram atendidos
permanecem presentes na vida adulta, como que pedindo acolhimento e resolução.
Trago aqui um trecho do seu livro:
“Não podemos mudar em nada
nosso passado, não podemos desfazer os males que nos foram imputados na
infância. Mas podemos nos mudar, ‘consertar’, reconquistar nossa integridade
perdida. Isso é possível à medida que decidimos observar mais de perto o
conhecimento sobre o passado arquivado em nosso corpo, e colocá-lo mais perto
de nossa consciência. Certamente, é um caminho desconfortável, mas é o único
que nos oferece a possibilidade de, finalmente, deixar a invisível (e ao mesmo
tempo cruel) prisão da infância, nos transformando de vítimas inconscientes do
passado em pessoas responsáveis, que são cientes de sua história e, com isso,
capazes de conviver com ela” (p. 15).
Não
há dúvida de que se permitir sentir a dor do vazio é difícil, bem difícil.
Porém, “fazer de conta” que ele não está presente não fará com que ele saia,
mas, ao contrário, o manterá por mais tempo, com maiores consequências. No caso
de ter sofrido agressões físicas, por exemplo, aumentará a chance de repetir
com os outros as próprias situações vividas – o que acontece especialmente na
relação com os filhos.
Ademais,
sempre é tempo de olhar para si, de buscar refazer o sentido da sua história, e
construir novas possibilidades de relação consigo e com os outros. Belas formas
podem surgir mesmo nas mais duras realidades, assim como podem
brotar plantas nos desertos mais áridos.
[1]
MÜLLER, Alice. O drama da criança bem
dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. São
Paulo: Summus, 1997.
* Texto publicado no Jornal Cidade Leste, edição de outubro de 2013.
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