Comumente há um exibicionismo
saudável, que precisa ser acolhido e não rotulado. Tende a diminuir conforme
vai se aproximando dos 3 anos. É uma necessidade da criança de ter a atenção
voltada para si própria, em torno dela, sendo que a interação é consideravelmente
maior com os adultos do que com os iguais. Este último aspecto também vai
diminuindo a partir dos 2 anos, indicando maior interesse pelas outras
crianças.
Em
geral, até os 18 meses a criança passou por um período em que atingiu um senso
de confiança básica no mundo e um despertar da consciência. Agora, ela começa a
substituir os julgamentos dos cuidadores por seus próprios julgamentos. A
vontade própria aparece com mais força e ganha destaque. O treinamento
higiênico e a linguagem verbal são passos importantes rumo à autonomia e ao
autocontrole.
Ao mesmo tempo em que elas querem
adquirir mais independência, as crianças desejam se manter próximas aos pais,
havendo um medo do distanciamento. “Será que mamãe (papai) vai continuar
gostando de mim, vai continuar perto de mim se eu fizer coisas sem ela (ele)?”
O ficar cada vez mais tempo longe dos pais e fazer coisas sem eles gera
angústia e ansiedade, que vai sendo resolvida na medida em que a criança
percebe que os pais estão sempre dentro dela, que a amam sempre e que os pais
aprovam e se alegram com sua ”independência”.
É comum neste período as crianças
terem pesadelos ou terrores noturnos, que estão associados ao medo de se
separar dos pais, bem como as fantasias que este fato gera. A freqüência do pesadelo
varia de criança para criança, tendo relação com a forma como os cuidadores
lidam com esta questão de independência e dependência. É importante ressalvar
que os pesadelos e terrores noturnos podem estar associados a outros fatores,
que não mencionei aqui. Cabe observar a especificidade de cada caso. Por
exemplo, uma criança que é violentada pode ter pesadelos em função disso.
Os 2 anos são conhecidos como o
ano da birra. A criança se mostra mais desobediente, aceitando com menos
facilidade as propostas dos adultos. Esta idade é marcada pelo negativismo, a
tendência de dizer “Não” como forma de resistência à autoridade. Quase todas as
crianças expressam o negativismo em algum grau. Esta característica geralmente
inicia antes dos 2 anos, tende a atingir os três anos e meio aos quatro, e
diminui aos seis.
Estas reações são importantes,
pois através delas a criança mostra que está fazendo um caminho de maior
autonomia, independência e autocontrole. Sendo assim, para que a criança passe
com sucesso por este período é importante que os cuidadores vejam tais atitudes
como normais, esperadas, sem rotular a criança como teimosa e, ao mesmo tempo,
lidem com elas de forma tranqüila e firme, sem abrir mão de limites, que
precisam ser respeitados.
* Texto publicado no Jornal Cidade Leste, edição de agosto de 2013.
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